O estopim foi uma aula de História, ministrada aos estudantes do 8º Ano do Ensino Fundamental do Colégio Notre Dame Aparecida, na qual o Dia do Índio, celebrado em 19 de abril, era debatido. Enquanto coordenava a conversa, a docente, Bruna Anacleto, percebeu, diante de tantos questionamentos, que aquele grupo de educandos pouco conhecia sobre os remanescentes indígenas, no Brasil e, mais claramente, na região de Carazinho. “Assim, me peguei surpresa pela possibilidade, tão simples, de transformar esses anseios em uma prática pedagógica e, posteriormente, em uma exposição itinerante”, comenta a educadora, que, a partir daí, começou a desenvolver o projeto “Retratos de uma Sociedade Interétnica”.
A iniciativa consiste em apresentar a cultura indígena aos educandos, de uma maneira não tradicional: por meio da fotografia. As imagens, registradas pelo fotógrafo Felipe Granville, retratam a cultura e o dia a dia da comunidade Kaingang Váycupry, que vive às margens da BR-386, no trecho que compreende o perímetro urbano do município.
De acordo com Bruna, o projeto objetiva a promoção de um intercâmbio entre as culturas existentes em Carazinho, além de proporcionar, por meio das fotografias, a possibilidade de análise e de compreensão do todo. “Ele oferece formas de conhecer o outro, sem pretensões e idealizações a respeito da cultura indígena, promovendo a discussão e desconstruindo alguns preconceitos imbricados, muitas vezes, na comunidade escolar, simplesmente por desconhecimento ou por reproduções do que ouvem”, ressalta.
A educadora lembra, ainda, que a realização do projeto só foi possível graças à aprovação e à colaboração da comunidade indígena, que, além de autorizar as fotografias, permitiu que os estudantes da instituição de ensino visitassem a aldeia, com o intuito de fazer a entrega dos mantimentos e do material escolar que arrecadaram, em prol da comunidade e da escola indígena. “Acompanhados dos pais, eles visitaram a aldeia, entregaram as doações aos indígenas e tiveram a oportunidade de conhecê-los melhor”, conta, destacando que todas essas vivências foram transmitidas aos colegas.
Segundo a estudante Renata Americano – que participou do projeto com o intuito de entender melhor a cultura, o comportamento e as tradições indígenas, após ter passado uma tarde na aldeia, ela e alguns colegas relataram aos demais a experiência de compreensão sobre a vida em comunidade, de visita à escola e de observação do processo de confecção de artesanato, além do aprendizado de algumas palavras da língua dos Kaingang Váycupry.
Prêmio Educador Nota 10:
Durante o desenvolvimento do projeto, Bruna teve a ideia de inscrevê-lo no Prêmio Educador Nota 10, que visa reconhecer o trabalho de professores da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e de gestores escolares de todo o país. “O processo se dá através do envio de um relato pessoal do professor, comentando sua proposta, justificando por que a sua ideia é nota 10 e explicando quais seriam as possibilidades aplicá-la em outros âmbitos da educação formal e não-formal. Além de sugerir soluções para problemas sociais, culturais e econômicos, através da mudança educacional”, explica.
Entre os mais de 4.200 inscritos na premiação, o projeto ficou entre os 50 finalistas. Além disso, foi uma das três iniciativas selecionadas na disciplina de História – a única da região Sul do Brasil. Para a educadora, esse reconhecimento é um incentivo para continuar fazendo o melhor, em prol de uma educação de qualidade, inclusiva, diversa e colaborativa. “Senti-me representando as aspirações de muita gente, as angústias dos estudantes por desconhecer uma realidade diferente da deles e a euforia por poder contribuir, aos poucos, para que o mundo se torne um lugar melhor, onde todas as pessoas sejam visíveis”, ressalta.
Mesmo sem ter sido um dos dez vencedores do prêmio, o projeto desperta em Bruna o sentimento de satisfação. “Nos sentimos vencedores pela oportunidade de poder compartilhar essa ideia, por ver que, de fato, estamos indo pelo caminho certo e por saber que os próximos passos serão de semear ideias e colher educação”, comemora.
Exposição Fotográfica Itinerante:
Visando difundir, ainda mais, os aspectos culturais e históricos retratados nas imagens capturadas durante a realização do projeto, as fotografias darão origem a uma mostra itinerante, que será lançada em outubro, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Olívio Otto. “Elas ficarão à disposição da comunidade carazinhense para que conheçam, prestigiem e possam transformar essa sementinha de educação, embasada inclusão social, em algo muito maior”, finaliza a educadora.